Caminhos Tortuosos no Descampado sem Curvas Caminhos Tortuosos no Descampado sem Curvas
Sem poder me virar, seguir em frente, ou chegar a uma conclusão, eu me sento e escrevo, sem saber muito bem o quê.

mais um adjetivo para volúvel -> The current mood of acredoce at www.imood.com

 

3.29.2006

eu ganhei um jantar. detesto comida francesa. mas... deixei de lanchar à tarde naquele pensamento suburbano (vai encarar, é) de tirar a carriga da miséria da dieta (carne + salada + água + gelatina diet)

então, eu vou ao famoso bistrô.

sentindo-me um tanto desconfortável, pensando em como as pessoas gastam quarenta reais num sanduíche. pois o bistrô era nesse estilo: você pede uma coca-cola que vem naquela garrafinha de bar, com uma taça de vidro colorida, pedrinha de gelo em formato de peixe e, voilá, fica permitido cobrar R$ 5,20.

"ai, que má vontade", disse minha amiga. "quando você vai comer aqui de novo?"

"ou beber, for that matter.", eu respondi, meio azeda.

"mau humor da p*rra, hein, garota."

"tenho meus motivos."

ela ri: "tá precisando trepar!"

essa elegância da mulher contemporânea é um fator para compreender a conversão de tantos homens ao homossexualismo. e me faz pensar no quê uma mulher vê em outra.

"julieta do céu, estou mui satisfeita com a minha vida. não sou da espécie trepadeira, estou mais para planta carnívora", desconverso. "você vai pedir o quê?"

ela pergunta da monografia, tenta pela enésima vez saber com quem eu ando envolvida já que ando declinando tudo quanto é convite que me aparece - "fernando henrique cardoso, julieta. eu fico com um tesão descontrolável quando vejo aquela papada toda. só não conta pra ninguém porque ele é casado, tá?". eu estou virando uma velha rabugenta.

tenho meus motivos.

a comida chegou. montinhos mínimos com umas fileirinhas de shoyu e azeite em volta do prato. essa cozinha francesa me irrita. são oito pratos com montinhos mínimos. aparentemente para provar melhor a comida. e ter que pedir várias coca-colas de R$ 5,20. o jantar grátis acaba saindo pelo preço de um jantar normal. anyway...

"acredoce, eu não ia falar isso pra você não, mas o canalha do meu ex-marido me pediu o seu telefone."

eu literalmente engasguei. pensei logo que havia sido extremamente rude com alguém que não conheço. mas, eu sou é meio tímida e acabo cortando as conversas com desconhecidos por medo de falar besteira. quem-é-o-ex-marido-canalha-de-julieta? e porque cargas d'água o indivíduo quer falar comigo.

"e você deu?"

havia uma esperança. detesto desconhecidos me ligando no celular. principalmente quando sabem o meu nome. é muito serial killer. 'oi, acredoce, advinha quem é'.

"ele me azucrinou as idéias até que roubou meu celular enquanto eu fui ao banheiro e pegou."

"como você sabe, então?", eu perguntei, desconfiando se ela seria f.d.p. o suficiente para dar meu número para um cara que eu acho que não conheço.

"porque ele ligou para outra amiga com o seu nome e perguntou se era a garota da peça. depois ele reconheceu a voz dela. e desligou."

e aí é que as coisas ficam estranhas. porque tem que ser assim.

o telefone tocou (juro!!!), com um número desconhecido.

"atende aí, julieta. o ex é teu."

"atende aí, acredoce. deixa de ser boba!"

eu me senti numa pegadinha. e atendi. a julieta do outro lado da mesa fazendo mímica para eu colocar o telefone em viva voz. nem morta. vai que o canalha do ex-marido fala mal dela?

- oi, acredoce. aqui é o horácio.
- oi, horácio. você é algum operador de telemarketing?
- (risos) não! a gente se conheceu no bar depois da sua peça. não lembra?
- o bar fica no andar de baixo do teatro. imagina que eu ia lá todas as noites. agora calcula aí quantas pessoas eu conheci nesse tempo e depois soma a minha falta de memória.
- (mais risos. julieta tenta pegar o telefone. dou um tapa no braço dela) você é uma gracinha, sabia?
- bom saber que as pessoas acham isso. mas, horácio, diz uma coisa: você não ia ficar meio assustado se uma mulher te ligasse do nada falando que você é uma gracinha?
- eu ia ficar lisonjeado. (pausa) já lembrou de onde me conhece?
- sim e não. você é amigo da julieta, né?
- isso! ah, a sua memória não é tão ruim assim...
- antes fosse... a julieta me avisou que você pediu o meu telefone. só não me disse o motivo.
- advinha...
- seja um bom rapaz e poupe sua conta de celular...
- ia te convidar para tomar um chopp--ah, não, você não bebe... uma coca light, hoje.
- ahn... (pensa em um milhão de coisas ao mesmo tempo. julieta me olha com cara de 'você não vai dizer que sim, né?') eu fico numa situação estranha, sabe? bom, eu estou no bistrô x, não quer dar uma passada aqui?
- já estou a caminho!

na hora eu pensei que se tivesse pedido "vem vestido de trakinas, por favor", ele iria.

julieta e eu comemos o primeiro prato em silêncio.

"p*rra, acredoce, por que você pediu apra ele vir até aqui agora?"
"porque você está aqui. eu tenho medo de ficar sozinha com homens."
"ele vai achar que eu estou com ciúmes. e que você fez isso de sacanagem."
"eu falei que estava sozinha? não, né. então, relaxa. (pausa) ele é mais bonito que o FHC?"
"vai pra p*rra".

chega o rapaz. bonitão, bem-vestido... ele era o cara que veio me perguntar como eu podia ser tão soturna em cena e tão maluquinha na 'vida real'. percebeu a situação e com muito bom-humor se juntou à mesa. surreal é o meu sobrenome, né?

jantamos os 7 pratos restantes. e, como bom cavalheiro, ele se ofereceu para pagar a minha conta. com a conta no vermelho, eu adoro o cavalheirismo.

porta do restaurante. os três parados. julieta vai pegar um táxi, mas não quer nos deixar sozinhos:

"acredoce, nega, eu te levo até o seu carro."
"não, julieta, deixa que eu levo", responde o cavalheiro horácio.

e para manter a compostura, julieta entra no táxi. deixando eu e horácio sozinhos. isso é que é uma situação absurdamente constrangedora.

"onde está o seu carro?"

a vontade era dizer "tipo, eu vou sozinha, de ônibus", mas julieta havia cortado a possibilidade. "hm, está a umas duas quadras. pode deixar, eu vou sozinha."

"que nada. meu carro também está longe."

vamos conversando. amenidades. falamos sobre a peça. ele detestou. mas é uma peça detestável, eu reconheço, embora eu até que goste. rimos. eu falo cinco piadas por minuto em situações constrangedoras.

e chegamos ao meu carro.

"aqui estamos. onde está o seu carro?"

"ah, a uns quatro quarteirões a frente."

"mas você disse que estava para cá."

"eu disse que estava longe."

"ah..."

é um dos momentos na vida em que a gente pensa que alguma coisa deveria acontecer para divergir a atenção. uma cidente, um assalto, um moleque de skate se estabacando... mas, nada. estava tudo tão calmo e sereno que era difícil falar: "ó, amigo... thanks but, no, thanks".

"vamos até a praia, para um barzinho?", ele me falou, sorrindo. homem f.d.p. é aquele que sabe o que uma mulher está pensando e que bola uma estratégia para simplesmente contornar a situação com a a maior naturalidade, mantendo aquele brilho no olhar.

eu sei que deveria ter dito não, mas a madre teresa havia me dado folga.

aí, a gente passa horas falando sobre o mercado cinematográfico, sobre o mercado cultural, sobre as plásticas horríveis das celebridades...

...

whisky é bom pacas, misturado com guaraná, sabia?
é, eu também.


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 3/29/2006 06:13:00 PM |

 

 


 

 

 

mais tentativas de fazer algum sentido

 

se eu mdaur a oredm das lerats vcoe anida vai me etnedenr?

 

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