mais um adjetivo para volúvel ->
12.27.2005
pensamentos para um fim-de-ano
Talvez fosse um exagero. Dizer certas coisas podia ser, quase sempre, um dos erros que seriam, pelo resto da vida, responsáveis pela infinidade de dores de cabeça. Cada uma das pontadas com nome, sobrenome e data de início. Mas, pensando muito, não dizer era também fonte de dores e pontadas identificadas. Só que dessa vez, no peito, lá no fundo, indistinta lágrima que corre na música de Maria Bethânia. Um peso escuro, estranho, uma vozinha do fundo da alma – facilmente confundida com a loucura – que berra “Ah!, se eu tivesse feito isso, dito aquilo, realizado aquela ação que parecia que mudaria a minha vida”. O arrependimento.
Arrepender-se. Arrepender-me. Quase sempre pensei que deveria me arrepender daquilo que fizera depois de três caipirinhas, mais do que não tinha feito de cara limpa. Arrepender-me do que deixei de fazer por medo do arrependimento futuro. Algumas palavras, parece, são feitas para causar pesar. Ninguém consegue ter arrependimento de coração leve, ninguém tem saudade com um sorriso radiante. A dor nunca vem com leveza. Confesso: já glamourizei meu pranto e já dei um tom estético à solidão. Inevitável. É uma bela imagem, atraente, sentar com o olhar perdido e aquelas pequenas lágrimas escorrendo pelo rosto, livres. Um raio de sol cortando a sala, iluminando a poeira em suspensão, o chão brilhando – recém-encerado – e um belo e triste vestido. Longo. Azul. Um pouco mais fechado e escuro que o turquesa. Uma bela imagem.
Os festejos de final de ano são sempre uma época que liberta esse pensamento. Luzinhas piscando no escuro, aquele presépio com figuras tão... conscientes da vinda de um salvador. Uma Maria sem cansaço do parto. Três velho senhores que vieram de longe, com aquelas roupas pesadas, para presentear um menino que já nasce com halo de santo na cabeça (coitado). As ruas apinhadas de pessoas com listas de presentes infindáveis e contas de banco no vermelho. A vontade de dar, de ter, o Papai Noel da Coca-Cola e dos shoppings com listas de crianças pedindo tudo o que há de mais caro no mundo do marketing infantil. Ver as crianças que não vão ver o bom velhinho chegando com o olhar mais adulto, frio e cético. Natal é época de supermercado cheio. Ano-Novo, de vagas a cinqüenta reais na praia de Copacabana. Ao mesmo tempo em que tudo se dilui das promessas e esperanças de um recomeço.
Cheia de promessas. Sem arrependimentos por deixar de. A vida é curta demais para isso. Abrir a janela e não me incomodar com o barulho dos fogos de artifício e o cheiro de pólvora queimada. Quem sabe a luz que vai cortar a sala não vai iluminar os desejos em suspensão, o chão brilhando e um belo vestido. Branco. Aberto e claro. Uma bela imagem. Triste, também, mas daquela impossível trsiteza alegre dos sonhos de um futuro mais leve.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 12/27/2005 05:03:00 PM
|
