mais um adjetivo para volúvel ->
5.11.2005
Contra Tudo e Todos os Favoráveis
É verdadeiro: com a separação dos pais a vida muda. Nada de muitas lágrimas e momentos de colo olhando o sol se pôr. Não, isso é poesia e fica para os blogs com gente mais sensível. Eu aqui, com minha mãe e meu cachorro, ficamos às voltas com as contas. E embora eu não pague muita coisa e meu pai dê uma grana para manter o apartamento, existe uma preocupação.
"Eu passo fome, faço você passar fome, minha filha, mas não deixamos de pagar o condomínio." Eu tenho quase certeza de que ela fala sério quando repete isso como um mantra, puxando as pontas do cabelos para saber se elas estão iguais.
Existe luz, telefone, comida... e aí tem a Velox, a NET, as pequenas comodidades, os pequenos prazeres - cada vez menores, até se tornarem microscópicos - e enfim... escumadeiras, liquidificadores etc. A lista segue. E sinceramente não há nenhuma vontade, nem pequenininha, nem escondida, de desfazer as ações que me trazem a este apartamento quase vazio.
Por outro lado, existem as obrigações, os telefonemas inevitáveis com pausas looooongas:
- Ahn, ah, hm, oi, tudo bom.
(Pausa. Passa um bonde.)
- É, hm, sim. Ééééé... (sustenta o verbo sem nenhuma outra razão a não ser ganhar tempo)
(Pausa. Passa uma banda.)
Eu sou má. Má. Aproveito para pedir o que quero. Desculpa, mas o orgulho ficou naquela esquina ali atrás, junto com meus sonhos de casar e ter gêmeas. Se eu preciso e tenho uma pessoa culpada, que não gasta mais dinheiro com as luzes acesas do meu quarto, meus banhos longos no chuveiro elétrico e minhas excentricidades na lista de compras, a troca é justa; mentira, não é, mas fica sendo porque eu sou uma desempregada.
Só que em alguns momentos é somente triste. É esquisito saber que de agora em diante o que pode mudar é minha própria saída de casa, mesmo que já tenha saído de casa e esteja, ainda assim, hm, em casa. Estranho pensar nisso. Cada minuto e cada passo dado rumo à minha formatura encurta a distância de umavida séria. Estive próxima de trancar a faculdade, mas não me convence entrar nesse jogo de empurrar com a barriga.
Hoje eu vi pessoas que são inteligentes, legais, mas que, como eu, não tem muito de formiguinha e vivem como cigarras. Elas estavam escolhendo os concursos que iam tentar. Fiquei pensando que seja hora de deixar, além do casamento, do felizes-para-sempre, e começar a me preparar para arrumar um trabalho fixo. De verdade, nada de ganhar quase nada porque é legal. Eu percebi - que triste, não? - o que torna a vida tão amarga para muita gente boa.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 5/11/2005 11:15:00 PM
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