mais um adjetivo para volúvel ->
11.21.2004
Interpretação
Ela passa, ela olha. Sem muita razão, sem muito alarde, um brilho chama a atenção dos olhos, acostumados com a paisagem de rotina. É bem verdade que o brilho era fosco, pequeno e vinha atrás de uma enorme amardura de cimentoe concreto. E mesmo assim, cativou a moça, que aqui fica pela heroína de romances insólitos, irreais e até mesmo insípidos. O mundo parou por um instante, era a sensação na cabeça povoada por um nada que ocupava todo o espaço do corpo e ela fez questão de anotar o momento, para lembrar depois e anotar no diário ao pé da cama.
Voltou para casa. No dia seguinte, já nem se dava mais conta daquele pequeno ponto que iluminou o rosto e fez brotar um sorriso. E justamente nesse momento, ela viu de novo a luz. Queria pensar que fosse o reflexo dos óculos escuros, mas a sensação que acompanhava o momento era indescritível e por isso, sabia ser a mesma. Fechou os olhos um instante apenas e saboreou. Dessa vez, deveria atender aos pedidos do destino e aceitar o sinal.
O resto do dia foi gasto para descobrir a razão daquela aparição tão estranha. Sua vida era comum, oridinária, cheia das desventuras que acontecem com os anônimos e não merecem mais do que uma lágrima entre um quebra-molas e uma freada, no ônibus. Tentou achar uma explicação, duas, três, alguma coisa que servisse. Os amigos, pouquíssimos para quem ela se aventurava em mencionar a visão, viam nisso o fim do arco-íris e o pote de ouro.
Ela acabou acreditando.
E as luzes se seguiam, diariamente. Viraram um momento a se esperar e a se querer no cotidiano. Ela não confessava, mas até mesmo penteou os cabelos e usou um perfume diferente para ver o pequeno brilho no céu. Parou de olhar para o chão. Tropeçou, mas a Divina Providência - essa tal senhora que finalmente trazia a justiça - segurava sua mão e não a deixava cair.
Então, a luz se apagou. Uma amiga, f[isica de plantão, explicou em meios técnicos que tudo não passou de ilusão. A heroína, devastada, não quis acreditar. Respirou fundo e engoliu a seco. Então tudo aquilo era só fenômeno físico? E os sinais? E a Divina Providência? O pote de ouro, o fim do arco-íris? Tudo enganação. Ela se trancou num quarto escuro e passou a noite sem coragem de abrir as janelas. Tinha medo de ver alguma luz e enlouquecer de vez. Não olhava para o alto. Tentava manter os olhos fechados, mas era sempre enganada pela imaginaçao que cismava em reviver os brilhos. Foi a pior noite de sua vida, nessa luta entre o científico e o místico. Era impossível pensar que aquilo era físico quando causava tanta coisa no plano emocional.
Mas saiu de casa, no dia seguinte. Abriu o jornal à esmo para ser surpreendida pela foto enorme de um brilho igual ao seu, na coluna das descobertas científicas. Conseguiu ouvir as risadas do setor responsável por enviar esperança. Chorou amargamente pela sua própria crença e por achar que merecia. Não queria mais ver ou ter brilhos na vida.
Só que os brilhos apareciam, cismavam em cortá-la no trânsito. Coloridos, empoeirados, enlouquecedores. Estava ficando louca.
Isso tudo para dizer que não há assunto. Eu comprei umas presilhas de Hello Kitty, uns lenços e uma libélula para encher meu cabelo de contas coloridas. *YAY*
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 11/21/2004 04:52:00 PM
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