mais um adjetivo para volúvel ->
9.24.2004
Um movimento cultural
As aulas da faculdade são sempre uma excelente oportunidade para ouvir das mais inteligentes às mais estranhas coisas. Quando o assunto é teatro, arte, história e afins, todo mundo tem uma opinião. E ainda que todas elas sejam, basicamente, a mesma coisa, cada um jura ser dono da idéia mais original do mundo. E que o resto... ah, o resto é e sempre foi uma merda.
Mais uma vez a conversa gira em torno da televisão. Ahn, tá. TV má, feia, chata, alienante. Concordo, concordo, eu penso, enquanto desenho eu e o Keanu andando por uma rua de Nova York. Os sofistas acreditavam que o primeiro a abrir a boca era sempre a pessoa mais burra e mais inocente. No meu caso, o professor. "Ah, coitado", pensa o leitor/leitora. Não, não. Era Pierre. Nada mais justo.
Aí passamos para o cinema. O Cinema é mau, feio, chato, bobo, alienante. É do diretor de fotografia. É do produtor. Do distribuidor. Da sua vizinha chata. E todo mundo se morde nas cadeiras, porque todo mundo tem uma quedinha pelo universo hollywoodiano, por mais que tente esconder entre camisetas "viva o brasil!" e jeitão neo-hippie. Ser bonito como na tela num mundo tão legal quanto aquele lá... todo mundo fala mal de Titanic, mas todo mundo viu o filme, ouviu a trilha e ainda se lembra lá daquele abraço ao vento, da menina 'voando'. Falam mal do Oscar, mas todo mundo sabe quem ganhou. Quem vos fala não se retira desse mundo; adoraria ser capa da Vanity Fair.
E disso vamos para o papel na arte. O professor tentanva dizer que não deve querer viver da arte; que Van Gogh morreu pobre; que quem fica na história são os que não iveram fama durante a vida; que o Zé Celso é um fodido na vida... Por tabela, nós, alunos e atores, deveríamos aspirar viver na merda. Para ficarmos na história, sabe? Porque se Drummond fez isso, quem somos nós para querermos outra coisa? Aí eu fico revoltada. Porque essa "história" aí que todo mundo aponta é um tanto quanto falha. Leonardo da Vinci não viveu bem? Edith Wharton? Só que é muito ais legal pensar no pintor que cortou uma orelha e só vendeu um quadro em vida, para o irmão. Só que isso não seria pensar pequeno?
Eu não posso viver bem da arte? Um trabalho feito para ganhar dinheiro peca na qualidade? Tudo bem, não será um obra artística, mas e daí? Se tiver qualidade, vontade e garra para existir no mundo, vale a pena. Eu não vou sair por aí fazendo peças de graça e remendando minhas calcinhas para ser artista. Meu caminho também não é ganhar rios de dinheiro. A Márcia Frazão, em um de seus livros diz que melhor é comer um arroz com ovo bem feito, com amor e vontade, do que a melhor das iguarias sem nenhuma energia positiva. Eu penso que é melhor fazer uma pequena peça na sua cidade e apresentá-la da melhor maneira possível do que conseguir um milhão de reais para o orçameno e não sentir a mínima vontade de olhar para a cara do elenco. O resultado pode não ser uma obra prima, mas prefiro isso a trabalhar de garçonete e ficar fazendo peças de graça. Desculpa, mas eu penso assim.
Aí tem as pessoas que procuram desesperadamente se encaixar no perfil do artista esfomeado e com tendência a auto-mutilação, mas, no fundo no fundo, quer mesmo é fazer a novela das oito. Poxa, se a pessoa é bonita e quer, vai em frente. Esse papo de morrer pela arte é coisa de doidão maconhado. A pior coisa que existe é ficar se enganando. O Keanu escolheu o caminho dele, o Mario Testino também, o João das Neves, a Edith Wharton, o Drummond, o Nelson Rodrigues....
O professor foi embora. Entrou outro, que tambpem deu sua aula. Na saída, eu fiquei olhando em volta. Falei com algumas pessoas, ri de umas piadas, de outras. Pierre está me odiando claramente por eu não estar falando com ele e mais ainda por eu fazer isso participando ativamente das aulas, quando faço questão absoluta de desconstruir tudo o que ele fala, reduzindo a aula a pó e ficar feliz da vida quando ele passa o resto da aula tentando caar os destroços.
Não, ainda não cozinhei nenhum coelhinho ou animal de estimação.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 9/24/2004 12:37:00 AM
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