mais um adjetivo para volúvel ->
9.16.2004
"Nossa, menina, meus parabéns!"
Virei atração turística. Ainda não entendi muito bem porquê, todo mundo agora passa, me olha, olha de novo, com mais atenção e me dá um sorrisiho cúmplice ou uma "olá" diferenciado. Primeiro eu pensei que fosse a minha fértil imaginação plantando sementinhas, mas eu fui vendo que era a realidade. Um colega me abraçou e, com um risinho bem típico, disse: "bom, acredoce, você realizou o sonho de todas as mulheres e homens gays, incluindo o meu. Ele [meu colega de cena] é tuuuudo de bom."
O referido colega, ontem, não me olhou direito, nem eu olhei para ele. A situação ficou incrivelmente estranha, depois de ambos, bêbados na noitada, vendo que o outro não era bem a figura que projetavam na sala de aula. Outro colega de turma veio apontar, com um sorrisinho (sorrisinho é aquela cara safada que os homens fazem, de apreciação) dizendo que eu estava "soltinha, soltinha". A resposta veio de maneira imediata:
- Você é que pensa.
- Ah, é? Duvido que se chegassem em você, você negaria.
- Como não? Eu neguei. Três.
A verdade. Ninguém precisa saber que os três seres eram, hm, digamos, o oposto de um príncipe encantado. E longe de serem sapos também, já que os anfíbios têm a possibilidade de virarem príncipes. E quem bem que poderia ter chegado em mim, não chegou. Parece não me ver como 'chegável'. Bem, voltemos ao que interessa. O colega de turma com um 'sorrisinho', ainda ficou me olhando como se pensasse com os seus botões se aquilo era papo mesmo ou se as minhas alardeadas virtudes eram verdadeiras e presentes em todas as situações. Mal sabe ele que a pseduo aqui não sabe nem flertar. Ah, os homens... sempre errados. Pensando o que não deveriam de quem não poderiam.
Ontem outro professor veio falar conosco. Novamente agradeceu, disse estar maravilhado e etc. e tal. Disse que ligou para Pierre somente para dizer: "Você perdeu a apresentação da sua turma. Isso foi imperdoável. Não viu a melhora que tiveram." Enfim, eu fiquei quieta. A aluna-turned-namorada-turned-noiva do outro coordenador veio falar comigo. Só faltava bater na minha cabeça. Achou minha performance magnifíca. "Fiquei pasma". Falou dos textos extra-cena:
"Eu me encontro num momento que apelidei, carinhosamente, de 'tchekhoviano'. Contemplativa e desejante. Desejando um amor que não foi, um homem que não é meu. Enfim, eu desejo Moscou."
E:
"Na vida nem sempre a gente pode ser o que quer. Aqui [no palco] eu posso ser qualquer coisa."
Ontem foi a noite de avaliação. O professor sentou e conversou sobre o processo. Primeiro em grupo e depois, individualmente. Eu fui uma das últimas e ouvi mais do que disse. Curto e eficaz. Foi muito bom. Mais uma epifania, dessa vez vinda de Dioniso, ao invés de anjinhos bonitinhos e assexuados. Aparentemente, fiz bonito. Eu gostei. Os outros gostaram. O professor disse: "Uma das melhores coisas foi ver que a menina que usa óculos estava lá, atracada com o garanhão da turma. Você viu que pode!..." Eu posso? Mesmo? Juro que ainda tenho grandes dúvidas a esse respeito. Eu ainda sou a menininha insegura que precisa que o cavalheiro venha até ela.
Eu disse uma frase para uma colega logo antes da prova: "Libere a puta que há em você." Casada, ela fazia uma cena de sedução com um cara por quem ela arrasta uma asa. Não chegavam a se beijar, mas o clima era tenso. (Por quantos caminhos essa última frase pode viajar......) Essa colega olhou para mim: "Você também." Eu ainda não liberei minha puta no palco. Na vida, hm, bem, não se comenta o que acontece entre quatro paredes, embora a frase já tenha uma resposta (e que talvez não seja a resposta verdadeira).
O clima ficou estranho, depois desse primeiro módulo. A turma inteira está, assim, criando um laço de intimidade sintética. Não me parece orgânico, talvez por eu mesma não fazer parte disso; eu sempre me coloco à margem, por um medinho bobo de exposição total. Eu não falo 'trepar' em público. Incrivelmente, eu conservo todo um lado pudico que me fez sair do grupinho do bate-papo quando as pessoas começaram a fazer brincadeiras e comentários maldosos sobre a minha cena. Acho estranho ouvir certas coisas. Ah, não sei. Eu fico sem-graça, sem-jeito.
E logo quando estava saindo, chega mais uma pessoa: "nossa, acredoce! Tava que tava, hein? Levantando a perna, ele te agarrando, daqui a pouco, só faltava subir no colo dele."
De C.D.F. passei a "menina que entrelaçou a perna na do colega de cena". Tudo numa questão de cinco minutos de cena.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 9/16/2004 12:48:00 PM
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