mais um adjetivo para volúvel ->
9.15.2004
Belíssima aparição
Ontem eu fiz mais uma prova na provação diária de provar um pouco da vida que escolhi para mim.
Foi bom, ontem. Ainda não entendi porque todos acharam tão genuinamente engraçado duas pessoas casadas que estão traindo. Mesmo que fosse assim, hm, diferente do que se espera de Tchekhov. O same old de fazer tudo à distância. E, engraçado como eu posso falar isso com a maior pureza d'alma, eu não medi nada, nem atos nem conseqüências e não me lembro também de muito do que fiz, ouvindo as memórias dos outros pelo resto da noite:
"Sua perna, assim, entrelaçada na dele e ele te puxando..."
Eu juro, não lembro disso. Não havia me dado conta de que a pézinho de sapatilha não estava lá, no chão. E isso seria bom, próprio de uma atriz, fazer algo sem se dar conta dos mínimos detalhes do movimento? Eu não senti nada, até porque eu sabia que tudo aquilo era uma cena, mas ao mesmo tempo, nossa, que estranho, ali estava eu, tão pudica e correta me atracando com um cara em público. *balança as mãos no ar* como assim? As coleguinhas de turma me pediam encarecidamente para que eu enfiasse a língua e fosse em frente, mas, juro, por Deus, não tinha a mínima vontade.
Só que beijo ténico não existe.
Existem técnicas para beijar.
Tipos de beijo.
(É que esse foi meu primeiro beijo em cena)
Mas, voltando ao assunto - já que isso daqui está mais apra uma confissão do que para um texto propriamente dito - eu terminei a cena, todos amaram, adoraram, eu olhei para a frente, arfante e ofegante, e foi, assim, como se eu tivesse oferecido aos espectadores uma performance. Não como se fosse uma cena. Ali, naquele momento, ah, que Macha e Verchinin! Eu e meu colega de cena estamos tanto nessa situação de vida ordinária que aquilo lá éramos nos mesmos fazendo uma sessão de terapia. Complicado, isso...
Só posso dizer que todos ficaram supresos com a turma. Minha amiga disse ter sido melhor do que Molière. Outros disseram que foi melhor do que quando éramos alunos de Pierre. E Pierre, mesmo, não estava lá. Algumas fofoquinhas pululam e comentam que ele está com ciúmes do novo professor, de quem todos falam tão bem. Outros dizem que é "ensaio". Ah, sabe como é a vida de artista. A gente a até esquece que é coordenador e que a turma-promessa estava fazendo prova. Porque, como assim, desmarcar um ensaio? Isso é pedir demais para alguém.
By the by, bebi e não fiquei de ressaca. Eu não estava bêbada, também. Só não me deixaram voltar dirigindo, o que até agora me pareceu uma atitude exagerada. Recebi um abraço, um beijo de boa noite e um: "como você é babaca... deixa de ser tão babaca..." com uma voz carinhosa que só pertence aos nossos amigos.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 9/15/2004 12:10:00 PM
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