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7.05.2004

Domingo

Uma das melhores coisas de morar em apartamento são os vizinhos à volta. Sem ser Voyeur acho interessante ver como as pessoas levam suas vidas. Não tenho binóculos ou nenhum aparato de visão noturna, muito menos fico no escuro todas as noites, com a poltrona virada para o outro lado da rua, mas, admitamos que é interessante observar os outros. Um cinema super-real e de graça.

Hoje eu estava ensaiando no apartamento de uma colega e depois de um tempo, demos uma pausa na varanda, para tomar sorvete e pegar uma brisa, tudo muito inocente. Do outro lado da rua, um apart-hotel. Inevitavelmente ficamos olhando para lá, vendo uma família numa king size vendo um filme, outro que via um jogo de futebol, uma outra que lavava um tomate, uma mulher tomando banho. O macho do nosso ppequeno grupoi ficou logo interessado na silhueta, que estranhamente havia se apoiado na janela. Mas começamos a falar do bucolismo da paisagem local, as árvores, as casinhas de vila no meio dos prédios... "Peraí", disse o bedito fruto "Cara, ela não está tomando banho. Olhamos todos para a janela. Um cara mais do que musculoso começava a realizar movimento bem caraterísticos da cópula. Um pornô ao vivo. Passam-se dez minutos. Muda-se a posição. E continua-se. Logicamente nos primeiros cinco minutos ficamos meio que arrebatados com aquela visão, já que poucos ali podem dizer que já viram um ato tão íntimo e -- selvagem diante de seus olhos. Eu, como completa ingênua e pura, fiquei meio sem-graça, vermelha e achando aquilo tudo tão... pornô, sabe? e não admitindo que eu fazia algo assim, tão fora dos contexto de velas e do romance.

A minha colega olha para o carro do bendito fruto e vê uma propaganda de político na janela traseira, pergunta que está concorrendo:

- O pai da minha namorada. Estou comendo a filha do cara. Colar o adesivo é o mínimo.

Acabamos o sorvete e os dois ainda continuavam, quando voltamos para o ensaio. No meio da cena, o bendito-fruto começa a rir, olhando para a frente. "Não há concentração que resista. Aqueles dois estão grudados!...", no que surge ao meu lado a minha colega e solta o comentário do ano: "Ai, imagina o repolho..."

Fechamos a cortina e voltamos a ensaiar.

No fim do dia, combinando o próximo encontro, vamos de novo para a varanda - juramos, estava muito quente na sala, sem nenhum significado oculto - e depois de uns quinze minutos chega o marido da colega "Nossa Senhora, esses dois tão mandando vê". O bendito fruto e ele passam a andar pela varanda, procurando o melhor ângulo de visão. Ele relatam a passagem da silhueta feminina nua na área de serviço, o aquecimento solitário da silhueta marombada e com minúcias descrevem o que eu e minha colega preferimos ignorar, até culminar com um: "Uh-hu, olha a amazona, rapaz! Essa cavalga bem."

Romance is lost.

por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 7/05/2004 12:22:00 AM |