mais um adjetivo para volúvel ->
6.19.2004
Editando seu Perfil
Há muitos e muitos anos atrás, quando um vídeo-cassete era sinal de alto status no pequeno mundo da média burguesia, eu tinha uma amiga. Flora, o seu nome. Sempre completamente louca e quem me ensinou os primeiros passos sobre o que era sexo, já que eu - avoada como sempre - não imaginava o que acontecia por baixo dos vestidinhos de algodão e dos bermudões e camisetas hering que mudavam de cor com o sol. Passávamos finais-de-semana na casa uma da outra, organizávamos festas de bonecas, desbravávamos a reserva florestal atrás de sua casa. Ela sonhava em casar, ter um casal de filhos e eu sonhava em viajar pelo mundo como uma atriz de cinema famosa.
Por algum motivo, que já nem me lembro mais, paramos de nos falar e acabamos perdendo contato, talvez por sermos as duas grandes idiotas de nariz empinado. Ou porque tinha que ser assim.
É engraçado que, com um advento como o tal de Orkut - uma merda, aliás, eu só tenho 1 (!!!!) amigo, quer mais depressão do que isso -, que nos promete reencontros à la Porta da Esperança, eu só fiquei sabendo que ela estava grávida - a Flora - quando a vi com aquele barrigão andando na rua. Nem parei para comentar, congratular, nada. Apenas acenamos uma para a outra, um pouco sem jeito, e continuamos. A menina que brincava de Barbie comigo e caçava tesouros arqueológicos na reserva florestal virou mãe, muito cedo e eu, que sempre fui a certinha e C.D.F., observei de longe ela com seu filho, meio sem vontade de nada, abrindo para ele um pacote de sorvete...
Hoje eu estava saindo de casa e vi um menino andando com sua avó. A mãe de Flora e o seu neto. Dei carona, obviamente. O menino estava feliz da vida por estar a caminho do cinema para ver Herry Potter. Ela, a mãe, sempre cansada, estava com uma long neck na mão. Conversei com o Juca, simpático, alegre e sorrindente, a cara de Flora... Falamos sobre Harry Potter, ele me contou que está na alfabetização, brincou, perguntou... E quando eles estavam saindo do carro, a mãe de Flora contou que eu "era amiga de infância da sua mãe". Os olhos da criança brilharam de satisfação. Ele colou seu narizinho no vidro do carro e me olhou fixamente. A avó puxou-o pelo braço enquanto ele acenava alegremente e berrava: "Tchau!". Eu sorri e pensei como Flora fora abençoada com uma criança tão maravilhosa.
Duas horas depois eu estava conversando com a minha mãe contando o ocorrido, falando daquela criança que gerava alegria com sua presença, tão diferente dessas crianças pedantes de hoje em dia e ao invés de se alegrar, minha mãe se entristece, balança a cabeça e o chama de "coitadinho...". Flora, há mais de dois anos, mora nos EUA e ele ficou com a avó. Na mesma hora entendi a felicidade de encontrar uma amiga da mãe, vi o cansaço da avó do menino e também me compadeci da criança, tão especial que é.
Ela foi-se, o filho ficou, o casamento não aconteceu, eu fiquei por aqui e provavelmente nos veremos mais duas ou três na vida. Parece que ninguém conseguiu o que quis e tenta, por caminhos cada vez mais estreitos ou trilhas duvidosas, correr atrás do prejuízo dos sonhos que desceram pelo ralo.
A vida é tão estranha....
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 6/19/2004 11:04:00 PM
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