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5.16.2004

Hoje é dia de festa!

Estou arrasada. Meus pés estão doendo, minha cabeça está latejando, meus joelhos quase não se aguentam, meus cabelos estão duros de tanto laquê, gel e sujeira, meus olhos ardem da maquiagem pesada do dia anterior, tenho compromisso hoje no fim do mundo para um trabalho da faculdade, minha casa está cheirando a ovo mexido com ervas finas e minha caixa de e-mail tem uma mensagem da minha amiga dizendo que ela fez a coisa certa em não me deixar beber na festa de ontem.

Fui ao local do crime e passei a noite observando os movimentos. Ri e dancei. Fui inicialmente ignorada por Pierre, que depois de uns vinte minutos veio falar comigo e me chamou de 'querida', como se não houvesse algo pior para ouvir. Já estava quase de saída, mas não pude sair quando reparei que a namorada, de cara cheia, passava a maior parte do tempo dançando e se divertindo com outras pessoas, enquanto Pierre se enfurece diante do quadro, já que precisava de ajuda. Os dois brigaram na minha frente. Ela tentava se fazer passar por mulher sexy até que ele perdeu as estribeiras. Eu tive pena dela porque eu sei que meus olhares de reprovação anteriores para aquela figura completamente bêbada dançando no salão foram levados em conta na hora da fúria, embora dê toda a razão para Pierre, já que a conduta não foi das melhores. Ela saiu para o banheiro, ele tentava se controlar. Ela voltou e ele foi para o banheiro. Os dois sentaram-se e ficaram olhando para a frente em silêncio. Ele resolveu fingir que nada estava acontecendo. Eu resolvi ir embora. Dei um abraço nele e tentei ignorá-la.

Já na rua, indo para o carro, conversava com duas amigas. Uma delas diz:

- você sabe que ela sabe.
- sim, eu sei.
- você viu o olhar dela para você?
- não. olhar de quê? de fúria?
- não... de quem perdeu. (pausa) e ele sabe que eu sei de tudo.
- é, eu sei.

É lógico que eu não fiquei feliz. Mas é lógico também que eu não fiquei infeliz. Fiquei engasgada, estridente e quando cheguei em casa fui ouvir Elis Regina:

POIS É


Pois é
Fica o dito e redito por não dito
E é difícil dizer que ainda é bonito
É inútil cantar o que perdi

Taí
Nosso mais-que-perfeito está desfeito
E o que me parecia tão direito
Caiu deste jeito sem perdão

Então
Disfarçar minha dor já não consigo
Dizer que nós somos bons amigos
É muita mentira para mim

Enfim
Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação

Pois é
E então?

por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 5/16/2004 10:13:00 AM |