mais um adjetivo para volúvel ->
5.19.2004
A chuva caía de forma quase torrencial, aquele som delicioso que abafa os pensamentos mais insanos e que reconforta com um suspiro de sonho e fantasias. As falsas estrelas no teto, rodeadas por mosquitos que cismam em queimar-se para estar o mais próximo possível de seu objeto de seu desejo único e irreprimível. O guarda-chuva ficou ali parado, apontado para o nada e já buscando a lavagem da alma pelas gotas de céu. Eu repetia incessantemente o mantra sem nada de sagrado e piscava os olhos a cada sensação ao meu lado. O tempo se passou. As pessoas foram embora e tudo ficou vazio. O mantra continuava, algumas vezes confundindo-se e em outras sendo foco de minha única crença palpável. A repetição faz o fato. A repetição faz o fato. A repetição faz o fato...
Alguma coisa não era normal, algo não se encaixava direito. Ele insistiu em não dividir o guarda-chuva, como se disso pudesse advir algum pensamento alheio. Não inisisti e quando ele, molhado de chuva, entrou no carro, desfiou sobre pequenos afazeres domésticos que deveria realizar enquanto eu cantarolava Etta James. Silêncios seguidos de pequenas trocas de frases absolutamente inócuas. Silêncio. Frase inócua-reposta de frase inócua. O que estava acontecendo, eu me perguntei, mas logo respondi a alguma pergunta sobre o tempo. "É, realmente está chovendo..." De algum lugar vem o som de outra conversa, que certamente se desenrolou de forma mais interessante do que a nossa. Parei o carro, bochechas se encontraram enquanto os corpos mantinham uma distância maior do que a possível dentro do pequeno veículo popular. A chuva havia parado. Nina Simone cantava os sofrimentos do amor. Ele bateu a porta.
A repetição não fez o fato.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 5/19/2004 02:43:00 PM
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