mais um adjetivo para volúvel ->
4.19.2004
Momento Bob-Pai Bob-Filha
Eu e meu pai estávamos no carro, esperando para apanhar a minha mãe de um curso. Na minha mão, um livro, mas me faltava a coragem de ignorá-lo por completo e começar a lê-lo. Ao fundo, Los Hermanos (O Vencedor), enquanto meu pai marcava as batidas com a mão, na porta do carro. Uma chuva fina começava a cair e alguns torcedores do Flamengo gritavam um quase-gol.
"Pai, qual era a profissão do meu avô?", perguntei eu fechando o livro e olhando para ele.
"Funcionário do Banco do Brasil, na época em que se tinha orgulho dessa profissão."
"Ahn..."
"Mas eu nunca entendi direito o meu pai... Cara estranho.... Talvez não seja para entendermos os nossos pais.", disse ele olhando para a frente, para o nada, quase um momento cinematográfico e juro que nesse momento começou a tocar 'Como nossos Pais', do Legião Urbana. Acreditei que isso representaria um momento de lucidez numa relação para-sempre-complicada e terminaríamos por descobrir que a aceitação de nossas diferenças é a base para um relação real, de amor e compreensão.
Meu pai olha para mim: "Eu continuo achando que você deveria fazer um concurso público e começar a ganhar um salário fixo. Se eu não tivesse que sustentar você, já poderia ter parado de trabalhar. Faça aí as coisinhas que você gosta de fazer, mas arrume um emprego de verdade, com aposentadoria boa e um fixo indo para a conta todos os meses. Hoje mesmo no jornal eu estava lendo que o Marcelo Antony foi preso com maconha. É esse o tipo de vida que você quer levar?"
"Pai, eu não fumo maconha."
"Olha a convivência..."
"Pai, médicos fumam maconha, engenheiros, professores... Eu, atriz e produtora, não."
Aí você pensa que o momento acabou e uma falsa sensação de parcial-alívio toma conta do meu ser.
"O Brasil tem algum ator hoje em dia? Digo, uma Fernanda Montenegro, um Paulo Autran? Não. A Debora Secco está se indispondo com o pessoal lá da Globo. Mas atores de verdade não existem."
"Pai, eles só não ganham mais espaço na mídia, se não estiverem na televisão. Eles existem, sim."
"Eu não conheço."
"Matheus Nachtergale, Drica Moraes, Luís Melo..."
"Nunca ouvi falar."
"Isso não quer dizer que eles não existam. Ou que não sejam bons ou conhecidos."
"Mas devem fumar maconha, todos eles".
Ah, tá. Comecei a ler o livro. Porque como estava no último post, A dor é inevitável/O sofrimento é opcional. E minha paciência certamente não é de ouro.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 4/19/2004 12:13:00 PM
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