mais um adjetivo para volúvel ->
4.03.2004
Liberdade
Eu sinceramente me desconheço. Essa pessoa a quem todos chamam, de quem falam bem e mal, amam, odeiam, fingem que não querem é uma completa desconhecida com quem tenho que conviver diariamente, quase como uma colega de quarto, que joga suas roupas pelo chão e deixa tudo bagunçado, quando eu sei que a organização é a chave para uma vida melhor. Só que não consigo explicar nada disso, nenhuma razão a não ser a dela entra em sua cabeça de bagre que só se preocupa em pensar horas a fio e não chegar a nenhuma conclusão, além de sempre me surpreender com suas recepções aos fatos diversos e adversos que se comprimem nas poucas horas do dia. É estranho viver comigo e não saber o quem eu sou, não saber minhas reações e muito menos ser capaz de mapear o que eu sinto. É lógico que não sou a única e tenho certeza de que alguém que leia isso tudo - alguém? quem? não sei. - levante o dedinho em frente ao computador e murmure um "eu também" aliviado, enquanto eu sinto uma brisa de leve na orelha e ficamos os dois com a certeza de que não somos os únicos na Terra assim.
É legal ver que eu não me conheço. É descobrir a cada dia uma coisinha diferente na frente do espelho e analisando o que eu disse para alguém, numa determinada situação ou pensar na minha reação a um assaltante espertinho que tenta levar meu anel de prata que carrego no anular da mão esquerda há mais de dez anos, quando comecei a chorar e dizer que o anel era a única lembrança da minha irmã que morrera de câncer há alguns meses e eu estava a caminho do cemitério para visitá-la. Não há como não se espantar e rir disso. Ou então aquela paquerada que damos quando menos esperamos e em quem menos esperamos ou comprar uma barra de chocolate com amendoim quando não comemos chocolate ou amendoim simplesmente porque sim, deu vontade.
E por que não?
Então hoje eu voltei para casa depois de um dia cheio de coisas, olhei para o computador cheio de programinhas de baixar coisinhas pornô de graça instalados por algum infeliz daqui de casa, tomei um gole de coca-cola, comi uma lasanha que acho que estava azeda - como estou gripada, não sinto cheiro nem gosto, portanto, tudo é psicológico - e tomei um banho. Comi um caqui delicioso, lambendo os dedos e me sujando como quando tinha 5 anos e me senti bem, com mais um dia em que as coisas se tornam claras, em que posso seguir adiante sem ter nenhum problema - a mais com que me preocupar. Eu consegui os ingressos para ver Macbeth no CCBB e a Ópera do Malandro. Semana que vem, vou me preparar para ver Ensaio.Hamlet da Cia. dos Atores e amanhã vou terminar de curar minha gripe. Poderia citar Drummond: "Êta, vida besta", mas isso parece mais com um novo começo do que com uma encruzilhada. Mas, só por precaupação, a 'macumbinha' do post é para dar sorte.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 4/03/2004 09:56:00 PM
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