mais um adjetivo para volúvel ->
4.01.2004
Hoje Tá Liberado! - Parte 2
Um brinde ao Impossível
"Quem vende o que não é seu é um ladrão." É triste ver uma frase maravilhosa e não conseguir se lembrar do autor, mas tenho que confessar que só lembro da frase sendo dita e repetida, mas nunca consigo gravar o nome do iluminado indivíduo que elaborou tal pérola da humanidade. E num dia como o Primeiro de Abril, o dia internacional da mentira, é bom ter em mente esse pensamento; tudo o que é demais, estraga.
Eu hoje fiquei sentada durante a aula, sem mais do que fazer além de olhar, já que meus amiguinhos de cena não se dignarama comparecer à aula, coisa à toa e sem importância para eles - ao que parece. Mas é ótimo ficar lá, ouvindo as pessoas conversando e mais ainda, abrir a minha própria cabeça com os comentários sobre arte, o ofício de ator e a própria verdade. E em uma peça onde o tema é Amor Impossível, do qual todos já sofreram, sofrem ou sofrerão, é muito, mas muito legal ouvir a universalidade através do particular, do scasos de cada um. Na hora, comecei a escrever, tentando transcrever com o máximo de clareza, o que se passava pela minha cabeça a partir das palavras que ouvia, compreendendo essa dor e esse prazer que nos fazem ultrapassar todos os limites sociais, culturais e cerebrais, esse momentos em que o mundo se torna uma única voz e um corpo, que parece nos chamar com voz mais alta e potente do que nossa própria consciência e vamos, desenbestados, correndo atrás desse sonho.
Uma noiva que vai se casar com um homem bom, decente, rico, perfeito, deixando de lado sua paixão iracional por um homem passional, pobre, mas que dá 'aquele' arrepio na pele. No dia do casório, ela ouve a voz dele na sala e vai, de anáguas, até ele. Os dois acabam discutindo sobre a impossibilidade do mundo. E ela continua seu caminho para o altar, enquanto ele despreza sua esposa.
Quem nunca amou o impossível? Uma das meninas disse que escrevia poemas e mais poemas sobre o tópico, a partir de suas próprias experiências. Quem já cometeu atos insanos por paixão? Porque para sair de roupas de baixo por ouvir a voz, além de desejo, há também um certo desespero. Quem nunca imaginou bocas, pernas, braços, palavras de puro gozo e êxtase, quem já não ficou sem conseguir pensar direito, concatenar duas frases que seja, quando se está perto daquela paixão?:
"Essa é uma das vezes em que eu tenho uma vontade louca de escrever, de trazer para o aqui e o agora, no papel, o que sempre provoca a imaginação nas noites de insônia. A gente não mente no cansaço, muito menos mentimos para nós mesmos sobre nós mesmos. É uma imagem de milésimo de segundo, é o que se projeta sobre nossos corpos com um sorriso enigmático e um olhar de imaginção desejando a nós, ali, deitados, impotentes e desejosos, na busca para encontrar o amor em Caps Lock, Sublinhado, em negrito, itálico, piscando, em neón, colorido, pulsante.
É estranho ouvir da boca que queremos uma opinião sobre amor impossível, o que deve e poderia ser feito, aquelas culpas que ficam no ar no amor que não foi. Puta, é a sensação de saber que isso tudo que se transforma em história está como o centro de discussão do tema de uam aula de quinta-feira na faculdade. Eu ouço sobre Paixão X Amor Tranqüilo, a exposição e o machucado do primeiro, a comodidade do segundo e fico boba com essa praticidade que ocupa a mente de quem prefere uma foda para o tempo passar do que algo real, vivo. As tentativas de (re)aproximação com quem se ama, é apaixonado, por quem se dóis e em quem se pensa - nada de tranquilidade aqui. "De que maneira você queria tê-la de volta?", ele pergunta a um aluno, que responde num jorro: palavras, gestos que tragam lembranças e reconstruir sensações, como forma de ficar junto, de buscar a outra pessoa.
Ninguém precisa fazer confidência, mas temos que compreender que essas vivências nos faz ser que somos, direta ou indiretamente, através da fala, do comportamento, do teatro, das palavras. Eu falo isso o tempo todo, no blog. Eu vivo isso que eu escrevo e ouço aqui e agora. E é o que eu tento fazer com quem eu gosto; descobrir e compreender a matéria que o faz enquanto ele se deixa levar em uma ou outra frase, um ou outro gesto, na pesquisa freudiana desse inconsciente."
Conversei, ainda, bati um papo interessante depois da aula, ouvi umas coisas, disse outras e fiquei lá parada só pensando na vida, em como essa espontaneidade é uma coisa que pode ou não ser completa e totalmente louca. Peguei o carro e logo depois parei no sinal. Ali estava Pierre, no ponto de ônibus. Se eu quisesse, poderia tê-lo no banco do carona, ali, como ele já fez comigo, me obrigando a entrar no carro para me levar logo ali. Eu poderia, mas... não consegui me obrigar a fazê-lo, não sei por que razão. Ele não me viu, estava procurando o dinherio da passagem e logo depois se enrolou com a pasta, quase deixando seu conteúdo cair no chão. O sinal abriu e eu segui em frente, dando uns gritinhos histéricos pela rua - se alguém me viu fazendo isso, peço desculpas -, mas não consegui me conter. Num dia em que me é dado o poder da mentira sem maiores conseqüências, eu só pude pensar nas verdades que gostaria de viver.
por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 4/01/2004 11:57:00 PM
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