mais um adjetivo para volúvel ->

 

3.03.2004

Um pouco de realidade, suor e lágrimas

Eu sou uma fraude. Mesmo não sabendo direito as implicações de sê-lo no mundo de hoje. Afinal de contas, a palavra, volta e meia, está na capa do jornal. Um engano, um engodo, um dolo, uma burla. Uma burla, entendem? Isso significa que nada do que faço é real, no sentido de legítimo, verdadeiro...

Quantas pessoas conheceram ou foram a CDF da sala? Aquela, no canto, de óculos, que parece passar a vida estudando e entende tudo de xadrez às cruzadas? Eu fui uma CDF. Só que nunca passei dias e noites estudando e, francamente, só sei que as cruzadas foram um empreendimento da Igreja. Desconheço os motivos, os participantes, a época do tal acontecimento. Des-com-he-ço. Não sei dividir números com vírgula; nunca consegui aprender os tais logarítimos; eu não consigo terminar de ler Guerra e Paz. Não gostei de O Pequeno Príncipe. Eu comprava Capricho na esperança de me tornar algo mais do que essa figura mítica que não correspondia nem mesmo à minha própria realidade. Meu histórico escolar não é nada demais. Tenho 6,0 e 5,0 aos montes e não passei no primeiro vestibular que prestei. Porque eu não consegui. Eu estudei mas não consegui.

E, olhando para trás, raramente consegui passar em algum teste na minha vida.

Ontem fui pegar meus resultados nas provas teóricas e práticas da faculdade. Das 9 provas que fiz, passei em 4, representando, portanto, menos da metade. Nas outras, passei na média (7,0) e a minha carta de aprovação era escrita e assinada por um professor com quem já tive um caso. E mesmo ele me deu aquela terrível ‘nota só-para-passar’, com uma cartinha que devia dizer algo como ‘ela tem possibilidades....’. Eu não passei em canto, mesmo tendo cantado bem, mas, nossa!, eu tenho que não só cantar bem como demonstrar estar maravilhosamnete bem mesmo detestando cantar em público.

Tudo bem. Só tenho que refazer 5 matérias.... Só. E ficar com a minha consciência pesada, por só ter passado porque o meu ex-professor-e-ainda-amado Pierre me passou pelo que ele acha que eu sou. Uma fraude, não?

Passei a noite chorando, pensando em como não merecia estar lá. Fui a pior (!!!!!!) nota da turma. Uso óculos, leio pra caralho, eu tento, tentei mesmo, mas só consegui provar a teoria de que sou um engodo. Viu? Esteriótipos não servem para nada. Mesmo as melhores leituras, o prestar atenção, o querer ser e aprender, nada disso conta mais do que quem você realmente é – no meu caso, ninguém. Ou de quem te passa numa prova.

Realmente, a minha vontade é perguntar para ele se eu mereço estar lá. Todo mundo é bom, é sério, e eu ontem não conseguia engatar uma conversa, porque não sentia que merecia. Eu não conseguia olhar para Pierre, achando que, em algum momento, uma das pessoas se levantaria e me pediria para sair, que eu era a pior de todas. Estou me sentindo assim. A pior de todas, a auto-estima no cu do mundo.

O post foi absolutamente negativo, mas, garanto-lhes que nada teve de mentiroso. Só achei que seria bom mostrar como as aparências e o que as pessoas acham dos outros pode não corresponder à realidade.

por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
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