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3.01.2004

Eu Sei...


foto: Divulgação de 'Guerra e Paz'. Audrey Hepburn (Natasha) e Henry Fonda(Pierre).

Hoje é meu primeiro dia de volta às aulas de teatro. Eu passei na prova de habilidades específicas. Na banca, Pierre, ou o-homem-que-nunca-será-da-minha-vida, me olhando, não me olhando, fingindo simplesmente estar por ali. E me passando nas provas por ser uma pérola. É... foda.

Sabe quando a gente se olha no espelho e começa a imaginar uma situação, fantasia algo sobre um dia pelo qual esperamos ansiosamente? Como num mundo paralelo, vestimos aquela roupa que nos faz parecer mais magros, colocamos uma maquiagemzinha básica para parecer cheia de vida, freash-out-of-the-tree e adentramos o território inimigo, cheio de lembranças, memórias, boas e ruins.

Eu estou lá, lendo Henry Miller, numa edição caindo aos pedaços que achei no sebo. Vestida de azul e tentando parecer alheia aos movimentos à minha volta. De repente, ele chega, com aquela camisa azul que já deveria ter virado pano de chão, mas que é tão conhecida e traz de volta tantas lembranças, que suscita um suspiro, daqueles vindos do fundo da alma e acompanha um leve rubor nas faces e uma sensação estranhíssima na boca do estômago. Ele tra o jornal de sempre, só a parte de esportes e diz um 'oi' semnada demais. Mas escolheu aquele ponto, com tantos outros bancos mesas. À minha frente. Continuamos lendo, cada um dando leves espiadelas por cima das minúsculas letrinhas. Acabamos começando a conversar, talvez sobre a vitória do Flamengo, ou por ele já ter lido Henry Miller e achar ele meio chato. Só sei que, na minha imaginação, nesse ótimo pequeno cosmos, engatamos um ótimo papo literário, como sou capaz de fazer com amigos ou até mesmo outros caras. Tomamos um café - eu tomo chá de hortelã com adoçante, mas isso é detalhe insignificante - e terminamos indo a uma festinha em Santa Thereza, mesmo palco de tantos anos antes, quando t-u-d-o deu errado e eu dei-lhe um chega-prá-lá e ele terminou a noite nos braços de outra. Mas nessa noite não. Essa noite terminaria no dia seguinte, naquela situação-comédia de procurar a calcinha atrás do sofá, embaixo da cama e achando na bancada da cozinha,a trás da cafeteira.

E termina comigo, ainda olhando no espelho, pensando que, nossa!, o tempo voou e eu estou atrasada para ir ao DETRAN.

por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 3/01/2004 10:33:00 AM |