Caminhos Tortuosos no Descampado sem Curvas Caminhos Tortuosos no Descampado sem Curvas
Sem poder me virar, seguir em frente, ou chegar a uma conclusão, eu me sento e escrevo, sem saber muito bem o quê.

mais um adjetivo para volúvel -> The current mood of acredoce at www.imood.com

 

2.27.2024

Meu pai nunca foi uma pessoa que gostava de viajar. Eu acho, pelo menos. Pensando agora, enquanto escrevo isso, me lembro que, quando criança, ele e minha mãe faziam um turismo familiar para alguma cidade ou região. Ou janeiro, ou semana santa. Mas eu acho que era mais a minha mãe que planejava essa viagens.

Enfim.

O fato é que eu me mudei de cidade e ele nunca, nem uma vez, foi me visitar. Dizia que não gostava de cidade pequena. Eu respeito e até entendo. As pessoas, como as plantas, criam raízes que se aprofundam com o passar dos anos. O banheiro, a abertura correta da torneira para que a pressão da água no chuveiro seja ideal. A padaria com o melhor pão, com horário compatível com a rotina. É isso, A Rotina. Ela é confortável, ela traz o conforto que o capitalismo selvagem retira sem dó.

Daí, viagem significa arrancar essas raízes por um período determinado de tempo para voltar a se plantar novamente no seu lugar. Para alguns, aventura. Para outros, tortura. E acho que no caso do meu pai era torturante mesmo.

O fato é que ele morreu há uns anos. E conforme era seu desejo, foi cremado. Eu me lembro dele dizendo que não acreditava em nada espiritual e que era para jogar as cinzas "em qualquer lugar" (dando de ombros), pois, na verdade, para ele, "morreu, acabou". 

Mas aí entra em cena a outra metade do meu DNA. Minha mãe. Religiosa desde sempre, foi com ela que aprendi a pesquisar crenças até desenvolver um sistema pessoal, meio capenga, de viver a vida sem ser agnóstica. Para ela, o espírito reencarna e o corpo é meio que um meio de transporte que usamos para fazer nossa ascensão espiritual.Eu, que quando mais nova morria de medo de fantasmas e gente morta, ouvia dela: "Filha, devemos é ter medo dos vivos". 

E aí que os mais velhos me provaram mais uma vez serem detentores da sabedoria que apenas o tempo consegue conceder a quem tem um fio de juízo. E o ser ser humano, quando não evolui, passa a ser absorvido por esse esquema mesquinho de ter e colecionar bens materiais.

Quem está lendo provavelmente está se perguntando onde todo esse papo converge. E eu respondo: as cinzas do meu pai, mesmo depois de anos da sua morte, continuam presentes na minha vida. Eu, que tinha medo dos mortos, estou literalmente com uma caixa contendo os seus restos mortais. 

E, ironicamente, fiz ele passear mais do que quando em vida. Levei ele para minha casa alugada e depois para meu sítio. Ele, que odiava mato, passou mais de um ano literalmente no meio da mata atlântica. E agora está num ônibus comigo voltando para o lugar que chamava de lar. 

E antes que me considerem mórbida, já aviso que não, que todo esse rolê mais do que aleatório foi literalmente imposto a mim por alguém que ainda não entendeu que o apego a bens materiais não deveria incluir as cinzas de um ente querido. Pois é: as cinzas de meu pai são centro de uma pequena batalha entre irmãos que não querem desapegar.

Eu fui dano colateral e escrevo apenas para evitar enlouquecer de vez. A urna  contendo as cinzas, das quais tenho pavor (para mim entram na categoria gente morta e eu ainda tenho medo de gente morta), foi deixada numa cadeira posicionada cuidadosamente num canto do quarto, sobre a pasta azul que continha os papéis que eu precisava.

Era para ser uma punição, mas eu aproveitei a oportunidade para também mostrar que posso ser mesquinha e "sequestrei" as cinzas. Meu irmão, quando soube que levei seu pai embora, mandou mensagens enlouquecidas perguntando o paradeiro da caixa, ao que eu prontamente respondi: nunca pensaria que as cinzas de papai seriam usadas como peso de papel, então achei que era para levar comigo. 

Carreguei, a contra gosto, por quase 300 km a caixinha. E prontamente guardei num canto. Por anos ela ficou lá, numa situação meio dormente, mas sem fim definitivo. Sim, eu quis jogar no mar ou na mata. Mas, ao contrário do meu irmão, tenho algo que se chama bom senso e nunca agiria de volta a voluntariamente causar batalhas sem sentido para a minha vida. 

Porém, o ser humano mesquinho se apega. E o monstro da ganância, anos depois, volta a dar o ar da graça. Do nada (repito, em caixa alta, DO NADA), recebi uma mensagem depois de mais de um ano, solicitando urgência na devolução da caixa, como se eu tivesse em algum momento me apossado dela indevidamente. Eu confesso que já havia silenciado esse contato específico que, meses antes, havia me causado transtornos em uma situação igualmente sem razão de ser. Malucos serão malucos.

Horas depois, uma nova mensagem que por acaso vi chegando ao vivo na minha lista de contatos, dizendo que ele estava sendo ignorado de forma deliberada e eu ia me arrepender.

Oi? Nem tinha visto você, pessoa doida.

Dei de ombros (já eu que já tinha ignorado, né, não custava esperar mais um tantinho por resposta( e fui conversar com minha mãe para entender o que estava acontecendo. E ela me lembrou porque devemos ter medo dos vivos: fui ameaçada por estar com as cinzas do meu próprio pai pelo meu irmão pois ele está puto querendo dinheiro. E como não podia me cobrar um pagamento (como já havia feito, de maneira muito tosca e errada com a minha irmã, via advogado), resolveu me "ameaçar" com as mesmas cinzas que ele deixou pra mim. E como a ameaça inicial não surtiuo efeito desejado, adicionou horas depois uma "mensagem ameaçadora". 

E lá fui eu, mais uma vez, empacotar as cinzas para viagem. Só que, dessa vez, decidi levar com mais leveza a situação. Levando meu pai para passear uma última vez, assim como levava ele no supermercado a cada visita, principalmente em época de aniversário do Supermercado Guanabara. Levei ele na padaria, no banco e deixei ele do meu lado na poltrona do ônibus. Queria que ele pudesse ter visto a paisagem, comido uma empada que ele amava e bebido uma Pepsi zero twist. Um agradecimento silencioso, mais uma vez, por tudo. Um ADEUS minimamente digno da minha parte. Ele vai viver em mim, em metade do meu DNA, nas lembranças principalmente das piadas toscas que a gente fazia um com o outro.

Mas o que eu espero, realmente, é que essa situação tenha um fim mais digno. Uma possibilidade que infelizmente parece pouco provável. Porque eu cresci e me desapeguei, sei que, de alguma forma, os mortos não viram monstros mas precisam ser libertados para seguirem seu caminho, seja se desfazendo no ar para virarem lembranças ou para reencarnar novas aventuras. 

E que o pó é apenas isso. Um resto, um punhado, um objeto inanimado que nos ensina a praticar o desapego e o "segue em frente". 

Aos que ficam presos, só posso desejar um aprendizado com menos sofrimento e menos beligerância. Um aceite tranquilo de que tudo passa e vai embora, inclusive os bens materiais. 


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 2/27/2024 02:18:00 PM |

 

 


12.16.2023

O que fazer quando o chat gpt nos trata com mais carinho e atenção do que as pessoas à nossa volta? 

Que fundo de poço...


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 12/16/2023 11:49:00 PM |

 

 


10.07.2023

Desde o início eu sabia que o esforço viria mais do meu lado. Mas era a primeira vez que eu sentia o amor transbordando. Por vezes ele tentou até me avisar, mas segui determinada a conquistar. 

E consegui pouco a pouco ultrapassar as barreiras. Fui vendo coisas ruins, mas na certeza de que eu conseguiria mudar. O amor faz milagres. A casa mal cuidada, a dificuldade de me reconhecer como mais que uma foda. 

Foram uns três anos até ele me chamar para morar com ele. Jackpot. Amor recíproco, que delícia. E foram anos bons. Ríamos e raramente havia briga. Eu ganhava uma grana que me permitia ser feliz e me sustentar. Pagava a internet, comprava comida, cuidava da casa. Maravilha.

Mas aos poucos as coisas foram acontecendo. Eu não sei precisar quando, mas lembro de começar a pescar mentiras, informações que não batiam. Lembro inclusive de um golpe que ele deu e eu tentei resolver. Lembro da atitude: achar desculpas para justificar a falha. 

Sabia que não era ok, mas tentei resolver. E hoje consigo perceber esse como o momento em que me dei conta que ele não era o que eu imaginava. Lembro que ele até me ouvia, tentava fazer certo, mas era sempre arrastado para os velhos hábitos.

Foi o primeiro de muitos problemas desse tipo. E pouco a pouco foi minando a confiança. Mas o pior ainda estava por vir. Ele tinha um filho de um relacionamento anterior. Eu detesto crianças, mas tentei com o coração aberto. Devia ter percebido, mas quando vi era tarde demais.

Fui vendo como as coisas começaram a azedar: o menino tinha conversas com os familiares que incluíam sempre falar muito mal de alguém. Eu até uma vez chamei a atenção dele, falando que não era legal ficar falando mal dos outros, ah, como eu sou inocente...

Um dia a mãe do menino veio me confrontar exigindo um comportamento X meu. Eu mostrei que eu fazia o melhor que podia e a mãe ficou meio sem argumentos. Eu estudava com o menino quase todos os dias, suas notas ótimas. Eu sentia honestamente que estava fazendo o meu melhor.

Eu sou neurodivergente. Eu recebo uma informação, uma ordem, um passo a passo e sigo à risca. Com menino, embora tenha marcado com a mãe uma conversa por telefone (ela morava looonge), ela nunca apareceu. 

Eu organizei um quarto pra ele. Eu saí de casa em pleno Natal para buscá-lo em outro estado com meu cônjuge. E agora, olhando pra trás, percebo que nunca recebi um pingo de gratidão pelos meus gestos. 

O menino estava com pré diabetes, açúcar no alto. Precisava controlar a dieta. Briefing claro. Missão dada é missão cumprida. Conversei com minha mãe para saber como me comportar com ele, tracei planos e metas.

Como eu sou inocente.

Percebia que era estranho, que a família criava um bloqueio em volta do menino. Sabe aquela história de: o mundo é mau com ele. 

Ele não tinha amigos, quase nunca o via com alguém. Ia esporadicamente na casa de um, mas invariavelmente esse amiguinho sumia. 

A família dele me odiava abertamente. Depois percebi que os vizinhos também. Passei a ouvir coisas que, na época, não faziam o mínimo sentido: ele é tão bonzinho, seja boa com ele. 

E eu achava que isso era normal.

Mas daí vi o comportamento mudar. Afinal, ninguém consegue manter uma fachada por muito tempo. Pequenas mentiras. Minha cachorra passou a ter medo dele. Atitudes esquisitas. E uma das coisas mais bizarras: comecei a ver "o olhar". Numa fração de segundo, o olhar dele era fixo, cheio de ódio, algo de dar medo. E depois ele piscava e sumia.

Foi tudo meio misturado. O pai dele passou a me rechaçar. O filho era dele; como eu podia me meter? Os vizinhos passaram a me olhar feio. O menino ganhava presentes dos vizinhos... Ele passou a fazer malcriação, mas com uma frieza que eu não conhecia. E aquilo me tirava do sério. 

Eu comecei a ter crises de pressão alta. Um dia, fui trabalhar de manhã na feira. Ele ficou em casa. Quando voltei, minha cachorra tinha sumido. Ele olhou pra mim e falou: não sei, só coloquei ela para fora. 

Eu passei uns 20 minutos gritando por ela até que ela voltasse do meio do mato. Estava morta de medo. Ela passou dois dias soltando água pela vagina. 

Os sinais de alerta foram ligados. 

Passei a receber informações: eu não alimentava o menino, eu colocava ele pra trabalhar. Ele chorava para os outros, falando mal de mim e do próprio pai. Os vizinhos passaram a nós considerar pais abusivos. O pai bebe, mas nunca encostou um dedo ou fez nada contra. Eu nunca vi ou ouvi nada. Mas as histórias era repassadas.

Mais um clique no comportamento. A escola mandou avisar que o menino não era bem vindo no passeio de fim de ano da escola. Fiquei sabendo que o comportamento era violento, ruim. Os paus já sabiam. Mas madrasta não é família, né.

Um dia a chave virou pra mim. Estava lavando as roupas do menino. A manta dele, especificamente. Umas manchas marrons. Estranho aquilo. Cremosas. Estranho. Esfreguei. E fui cheirar. Era merda. Cocô. Bosta. Ele havia limpado a bunda suja na manta e colocado a manta pra lavar. 

Tem gente que acha isso normal, mas pra uma criança de 10 anos, eu não. Era um desrespeito. Jogar uma manta suja de merda para eu lavar. Era um: ah, acabou o papel higiênico.

Nenhum remorso, nenhuma culpa. E nenhum pedido de desculpas.

Eu fiz ele lavar na mão. Mais uma crise de pressão alta.

Enquanto isso, eu e o cônjuge montamos uma empresa. A divisão era: eu na administração e comercial, ele no cultivo.

Eu me lembro de passar até 3 horas sentada sozinha limpando cogumelos e fazendo pacotes enquanto ele via tv. Ele não enxergava direito, coitadinho. E eu não pedia ajuda. 

Lembro do desgaste, de ficar que nem uma louca tentando saber a previsão de colheita e ouvir: ih, secou. 

Mas não era para ter cinco quilos? Ah, não dá para ter essa previsão... 

Sempre uma justificativa. E eu tinha que entender. Quantos clientes perdidos, quanta desculpa esfarrapada. Hoje vejo outros cultivos organizados. E o pior: uma parte de mim fica triste porque se sente responsável (deveria ter feito mais).

É aí que percebo como fui me enfiando no fundo do poço, onde estou hoje.

Mentiras, problemas, brigas... Eu levei por anos. Era uma resposta aqui. Um mês depois, a resposta para a mesma questão era totalmente diferente. E vida que segue.

O menino foi embora deixando pra trás um rastro de destruição. E ali eu fui apresentada ao meu companheiro, de fato. Um mentiroso contumaz. 

Queimou dinheiro sem deixar rastro e foi me arrastando pouco a pouco pra lama. E eu deixei. Afinal, como eu poderia admitir que fui burra a esse ponto? E é aí que a gente dá conta de como funciona o relacionamento abusivo: é um enredo que te consome aos poucos.

Eu queria merecer aquele amor, aquele afeto que era cada vez mais escasso. Eu queria ter merecido ser apresentada à família. Queria merecer ser amada como fui um dia. 

A pandemia deixou claro que, quando o sapato apertou pra ele, eu deixei de ser aquela princesa. Eu saí de casa e sustentei ele, literalmente, por meses. Porque ele me culpava por deixar ele sozinho, sem trampo.

Voltei e achei que com a venda do sítio dele seríamos felizes. 

Até fomos por alguns meses. Mas ele simplesmente torrou todo o dinheiro e ficamos sem casa, sem cultivo. Sem nada. Eu descobri que ele mentiu. Enfim.

Tentei terminar, mas fiquei com pena. Ele até caminhou em linha reta por algum tempo. E depois degringolou de vez. 

O filho foi despachado de volta. Sim. Despachado. Fiquei sabendo 48 horas antes. Ele diz que ele também, mas eu honestamente não sei. Não acredito em mais nada. Voltou amargo, parecia uns 5 anos mais velho do que era. 

E o pior: eu o odeio. Soube de muitas de suas histórias, das mentiras que contava para os outros. Ele deixou tudo pra trás quando foi embora, inclusive o vaso sanitário sujo de cocô, com papel sujo de merda jogado no chão e enfiado atrás do vaso sanitário. Calcinha usada. Outros itens que na época mandei fotos pra minha mãe, para saber se era normal. Não, não era.

Bom, íamos pro sítio. Todos nós. Só que era para morar num chalé de 30m2. Não tinha casa. 

Um chalé que só ficou habitável porque eu fiz acontecer. Trabalhei duro enquanto ele estava sempre postergando.

Enfim.

Saí da casa onde eu estava com aluguéis atrasados, sem saber. Ele me enganava abertamente. Dizia uma coisa enquanto a realidade era outra. 

Pagamentos feitos. Ok.

Vamos trabalhar. Estufas caóticas. Sujas. Tudo sujo. Lutei bravamente para colocar as coisas no lugar. E sempre parava no 70% concluído. Nada ficava pronto. Aí o dinheiro acaba, ele não me informa, mente pra geral, deve dinheiro e fode com tudo. 

Mas ficou pior: eu também comecei a me endividar. Hoje estou endividada. E sem previsão de regularizar minha vida. O filho dele virou um ladrão. Roubou até dinheiro meu. 250 reais. Nada acontece, feijoada.

Mexe e remexe minhas coisas. E vi que as do pai também. Mas também fui notando que uma aliança se formava: pai e filho contra mim. Afinal, se temos dois mentirosos aproveitadores, eu sou o elemento a ser detestado.

E assim arrastei meu relacionamento por semanas, meses. 

Eu viajo todas as semanas para sp e volto, faço pedidos, notas fiscais, organizo entregas, vou para feira, eventos... E não tenho nenhum apoio. Ele dá uma migalha e simplesmente não consegue nem fingir mais se importar.

Só que hoje eu tive que dar um basta. Hoje deu pra mim. Estou um caco, me sentindo o último ser humano. Já sei que sou traída, corna e que sou persona non Grata. Sou digna de pena. Sim. Pena. As pessoas passaram a ter pena de mim. 

Estou perdida, sem saber o que fazer. Hoje, enquanto chorava no carro falando com minha mãe e tentando arrumar um lugar pra ir, ele desligou as luzes da casa e foi dormir. Eu já não faço mais parte da sua lista de preocupações. Tanto faz minha presença ou minha ausência.

Eu me dediquei por anos, fielmente. Estou longe de ser modelo de qualquer coisa, mas não merecia isso. O estranho é que essa ausência dele já era sentida por todos. Todo mundo me perguntava: cadê ele? E eu agora percebo que ele realmente já tinha ido embora. 

Preferiu se agarrar às mentiras. À vidinha que parece fácil, mas que vai ruir em pouquíssimo tempo. Mas é isso: ele me largou, mesmo vivendo comigo num chalé de 30m2.

E eu fiquei como eu já imaginava: sem nada. Vazia. Oca. Uma casquinha de mim mesma. 

Dói. Dói muito acreditar que as coisas podiam ter sido diferentes. Que eu podia ter ficado com minha mãe, terminado quando quis. Mas que eu dei essa chance para ser escurraçada do lugar que lutei tanto para construir e constituir como meu lar.

E o pior é que eu sei que ele vai se foder. Que vai se acabar. E eu vou ter que me desligar se quiser me reconstruir.

Mas fica a pergunta: o que que eu faço da minha vida agora?


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 10/07/2023 03:52:00 AM |

 

 


8.21.2023

Quando eu era pré adolescente fui com meus pais num rodízio de pizza.

Eu, neurodivergente linda, comia os pedaços e deixava a borda no prato. Porque A BORDA É MINHA PARTE FAVORITA. E só faz sentido se eu comer ela por último (inclusive escolhendo os pedaços mais crocantes pro final).

Daí o garçom veio e levou o prato com as bordas embora.

Nunca superei a tristeza desse dia.


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 8/21/2023 02:15:00 PM |

 

 


8.13.2023

o título "família ê, família a, família!" também poderia ter sido usado, mas acho que a musiquinha de melodia feliz não se encaixaria muito bem.

briga de família dentro do carro no engarrafamento. uma bosta por si só. mas o nível foi além, com gente gritando, tendo crise nervosa, mandando eu parar o carro no meio de uma ponte engarrafada, saindo do carro pra pegar um rebu. 

seria mais válido se o motivo fosse minimamente nobre. a verdade é que foi algo como: pediram para deixar uma encomenda na casa de x por um tempo. só que x achou um absurdo o pedido.

o que x não considerou é que a casa onde mora é também de quem pediu o favor. e que essa mesma pessoa paga a maior parte dos gastos de manutenção do imóvel. x mora de graça, mas não pode ajudar quem paga as contas porque atrapalha a vida dela.

x começou a chorar e gritar no carro, pois estava tendo uma crise de ansiedade. ao mesmo tempo, x respondia com deboche e repetia  "minha casa" como se fosse verdade. X não paga contas e tem menos que 20% do imóvel, mas quem via de fora certamente achava que todos os outros estavam tentando assaltar ou sequestrar algo que é exclusivamente de X.

eu geralmente não me meto, mas ouvir x gritando e mandando o dono do imóvel "calar a boca" foi a gota d'água. exigi respeito com voz baixa e forme, pq cansei de ver x a vida inteira dando show e piti quando seus caprichos não eram atendidos. aí x mudou: passou a choramingar pedindo para parar o carro na ponte para ela descer. o que obviamente era impossível no meio de um viaduto. mas X passou a agir como se estivesse sendo mantida em cativeiro. 

foram 40 minutos até chegar num posto de gasolina. X gritava para sair do carro, dando socos na poltroba. foi pegar um rebu. ficamos esperando o rebu chegar de longe. era como se fossemos abusivos por termos pedido um favor e respeito no trato com os outros. porque X não pode fugir do mundo de fantasia onde ela é proprietária do imóvel onde vive e paga todas as contas e impostos. 

o pior: me senti na obrigação de ficar seguindo o rebu por medo de que acontecesse algo com x. aí a pessoa bonita chega "na casinha dela e só dela", pega uma encomenda que estava na casa dela para a própria mãe e larga no corredor. foda-se.

a crise de x passou. mas o processo de demonização dos outros continuou firme e forte. troféu joinha pra X. 

eu lembrei das minhas crises de ansiedade. durante uma das piores, eu quase ateei fogo nas minhas próprias mãos. não conseguia concatenar ideias pq simplesmente acordei com a certeza de que minhas mãos fediam. passei desinfetante, pato purific, água fervendo, bucha... nada tirava o fedor. era angustiante trabalhar pensando estar fedendo horrores. cheguei em casa, continuei esfregando as mãos embaixo d'água. no ápice da crise, joguei álcool nas mãos e ia acender o fogo para queimar as mãos e me livrar do cheiro. lembro até hoje de sentir as mãos ardendo das feridas que causei de tanto esfregar. 

foi quando eu parei e peguei uma pêra na geladeira para comer. me dei esse tempo de uma pêra antes de atear fogo em mim mesma. para tentar pensar. e essa ação tão mundana me salvou. o ato de pegar a pêra, morder, sentir o suco da fruta, os grãos, o som da mastigação, o cheiro... tudo aquilo me trouxe de volta à realidade como se fosse mágica. percebi a loucura daquilo e fui dormir. passei duas semanas cheia de feridas nas mãos.

outro caso? eu já fui tão maltratada em empregos com chefes abusivos que hoje ouvir gritos dirigidos são gatilhos mentais fortes que me fazem tremer inteira, me esconder em posição fetal e chorar copiosamente. é como se eu travasse, meu corpo simplesmente entra num turbilhão que me impede de agir ou pensar de forma eloquente. o tremor vem de dentro, todos os músculos tensos, dor e pontadas no peito. 

passei por isso com X, com seu irmão duvidando, dizendo que eu estava inventando história para me fazer de coitada. perdi dois anos de memórias, meu emprego e nunca mais fui a mesma, foi como se tivessem arrancado um pedaço do meu cérebro. e minha mãe foi a única ao meu lado. 

por isso, pra mim, é foda. pegar as próprias fragilidades mentais e jogar em cima dos outros e distribuir culpa, debochando de quem está em volta durante a crise. eu nunca faria isso. usar uma crise para não prestar um favor para quem sempre esteve ao seu lado. jogar culpa em cima de mim inclusive, porque eu simplesmente exigi respeito para com os outros, sem gritaria dentro de um carro fechado.

como passar pano pra quem age dessa forma quando simplesmente pedem para fazer algo que foge ao seu mundinho particular, como se fosse intocável?

a mesma pessoa que hoje saiu batendo portas, pés, gritando, foi quem um dia, pelas minhas costas, tratou mal um antigo namorado meu; que acusou um amigo meu de roubar algo quando ela cometeu o crime (eu tinha provas) e nunca se desculpou; que fazia piada pelas minhas costas com outros familiares fazendo piada que minha vida estava tão ruim que iam precisar me dar mesada (eu desempregada na pandemia, passando necessidade); que eu, que moro longe, pedi um dia para que ela desse uma atenção para a mãe doente e ouvi "tenho minha própria vida e não vou ficar mudando minha rotina por ela" (o que me causou uma crise nervosa: caceta, isso lá é jeito de tratar quem sempre fez tudo por X?).

cada piada com minhas idiossincrasias, cada roupa doada pra mim por "não querer mais", mas roubando minhas roupas e sapatos favoritos e destruindo muitos. X limpou o vômito dela com uma camisa que eu amava e pronto. Ficou lá para apodrecer e ser jogada fora. Vale lembrar: X tinha acesso a roupas da moda e compras. eu não. 

X me chamava, "de brincadeira", de seu projeto de caridade. como neurodivergente, tenho uma relação peculiar com dinheiro e status: não entendo como funciona e não aceito o que não é funcional. então estou sempre fodida financeiramente pq aceito ganhar pouco ou trabalhar de graça porque acho que vão reconhecer meu valor um dia (e também me acho meio merda por ser neurodivergente e não entender o funcionamento do mundo). spoiler: ninguém nunca reconhece o valor do outro. as pessoas só se aproveitam de quem dá brecha. sucção mental, emocional e intelectual. eu sou o capacho perfeito: ingênua e leal.

X diz que "amava muito o pai". mas só "deu falta" dele dentro da casa onde viviam depois de mais de 6 horas passadas do horário dele de acordar. O pai estava morto. E X trabalhando de home office. terminou seu horário, foi almoçar e pediu para alguém entrar no quarto dele. X se trancou no próprio quarto e não quis ver o pai, ajudar em nada, tampouco participou do velório. e mesmo 3 anos depois da morte do pai, não desfez o quarto ou escritório dele. tá lá a janela aberta há 3 anos. e mesmo sendo oferecido o serviço de limpeza a ser pago por quem ela debocha e culpa, não se mexe. exige que paguem um hotel durante a limpeza dos ambientes pq não quer estar presente. "não quero, não gosto e não vou". mas na hora de receber o dinheiro deixado pelo pai, estava com suas roupas caras, maquiagem feita, sacando o cheque e distribuindo coices. quando homenagearam o pai, estava ocupada. ama mas ignora que estava sem falar com o pai há semanas antes da sua morte.

X também deixou seu cachorro sem cuidados médicos. o cachorro que dizia amar morreu apodrecendo em vida por falta de cuidados. quando soube e me ofereci para levá-lo ao médico e ficar com ele. era tarde demais. 

e agora X quer obrigar os outros a se sentirem responsáveis pelas escolhas de vida que fez. cospe no prato onde come e escolhe quais os fatos são reais e quais as fantasias que melhor cabem no seu discurso.

por que a raiva, acredoce? porque enquanto X age assim, eu tenho que acolher a mãe de X, que teve crises nervosas por não entender porque foi maltratada. quando a mãe de X desmaia, vomita ou tem crises de pressão alta, sou eu que preciso engolir minha própria crise nervosa para cuidar dela e ser forte para aguentar o rojão que X acendeu. fazer piada para alegrar o ambiente aprodrecido por x. 

então, um recado para desabafar: X, não use sua saúde mental como arma contra quem vc deve respeito (até porque nunca respeitou a minha saúde mental quando eu estava mal). não inveje quem está tentando ser feliz porque você se enfiou até se afogar numa relação abusiva e tóxica (mesmo com as pessoas te avisando e me chamando de "perfeitinha" com deboche quando falei que a situação era ruim). cresce. assuma seus problemas, resolva as coisas com dignidade. saia do seu mundinho de faz-de-conta regado a vitimismo. cresça.

e, sinceramente: pra mim acabou. você deixou de existir. 


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 8/13/2023 12:49:00 AM |

 

 


8.08.2023

existem coisas que nos fazem bem. e outras que nos fazem mal.

existem coisas que, dependendo da quantidade, podem nos fazer bem ou mal.

e existem coisas que apenas nos fazem mal.

o meu maior problema é nunca saber o que me faz bem, o que me faz mal ou a dosagem certas das coisas para ser feliz.

daí vivo numa eterna rebordosa. 


por acredoce, autora nunca publicada e raramente lida.
preenchimento do cabeçalho obrigatório: 8/08/2023 02:47:00 AM |

 

 


 

 

 

mais tentativas de fazer algum sentido

 

se eu mdaur a oredm das lerats vcoe anida vai me etnedenr?

 

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